Os amigos do meu pai
Noventa e três anos preenchidos de entusiasmo pela presença do outro, e por um sorriso que em todos acende o valor da afeição e do apreço.
Desde sempre, fez da proximidade com os demais um modo de ser.
O encontro é a festa da sua vida. Sempre que o outro acontece, o olhar ilumina-se; a palavra demora o prazer do diálogo; diz de si e da sua circunstância; traduz o regozijo; e do amigo traz a atenção e a notícia.
A ocasião, irá tornar também possível o desejo de contacto que o gesto aguarda.
Estou a falar do meu pai. Homem de palavras, com uma bonita idade, e que tem no outro a parte que o faz inteiro.
Existo, logo vivo. Será assim. Será que a certeza da existência nos assegura a autenticidade da vida.
Quando se ouve de alguém, isto não é vida, que dúvidas lhe assistem para pôr em causa os caminhos traçados para ela.
A dúvida, pode despertar-nos para pensá-la, tentar perceber os modos diferentes de conduzi-la, e, eventualmente, ajustar o rumo para portos mais seguros.
A vida é uma dádiva que devemos celebrar em cada instante.
Tomar consciência de que não estamos sozinhos, e que a tranquilidade e o bem estar derivam da partilha, é a garantia de que com os outros, ficaremos mais próximos de nós mesmos.
O companheirismo e a solidariedade ajudar-nos-ão a suavizar as dificuldades do caminho, e farão despertar sentimentos que hão-de seguramente fazer de nós, pessoas melhores.
Existir com o outro é fundar a palavra amigo, tê-la na memória dos dias, percebê-la para lá da presença, e com ela e sobre ela construir tal como o meu pai, um edifício da vida que nos garanta uma existência humanizada.