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Alvor,a terra e a ria

Alvor,a terra e a ria

06
Fev21

O outro lado das palavras

Joaquim Morais

                                      Enquanto me convocar o espanto

                                      viverei na iminência dum verso

 

 

 

 

 

 

 

       Apenas o linho das palavras

          permitirá a cal do poema.

 

 

 

 

 

            Propósitos

 

 

Que as palavras traduzam

a veemência do desejo.

Que tenham a subtileza do ar

e a leveza do voo.

 

 

 

 

 

As flores da sua lavra

 

 

As palavras habitam

o mistério do poema.

Convictas da sua condição,

dirão com a clareza

da sua obscuridade,

e em cada jardim

despontarão as flores

da sua lavra.

 

 

 

 

                                       Sintaxe de abelhas

 

 

Fachos de orvalho que incendeiam as sílabas,

e descerram cortinas de aurora

na bruma do verbo.

Palavras solares, que esmagam doutrinas

e florescem em jardins de água,

solidárias e inquietas,

cheirando a espanto e a jasmim,

cúmplices de frases que governam o vento,

e em cada parágrafo sopram o riso das manhãs.

Discurso de pedra lavrado pelo cinzel das águas,

onde uma sintaxe de abelhas insinua a primavera.

 

 

 

A poesia do sal

 

 

Quero o céu e o mar

e o sol a escrever a poesia do sal.

Quero a alma do ar a açoitar-me,

e as éguas de espuma,

e a volúpia da chuva,

e a terra a inundar-me.

Quero colher do verde

a luz que o acende.

Quero as palavras e o verso

e o mar que as navegue

 

 

 

 

 

A música e o silêncio

 

 

Uma palavra que brilhe para além

das suas prosaicas fronteiras;

que ateie a fogueira dos espíritos

e aquiete o sopro que a obriga.

Que a sua música desperte

a graça de quem ouve,

e o seu silêncio a musa de quem lê.

Uma palavra nua e pobre;

liberta do jugo da retórica;

que seja semente e flor e fruto,

e apenas se cumpra.

 

 

 

 

Maternos sobressaltos

 

 

Sempre que no redor se acende

o olhar e o desejo,

a terra agita-se em maternos sobressaltos,

até que a insónia lhe dite as palavras

que ousem subverter o mundo.

 

 

 

 

                                       O dizer do vento

 

 

Quando as palavras são pássaros,

e voam nos versos que as resgatam

para o dizer do vento,

talvez o canto as liberte

da prisão dos espelhos.

 

 

 

 

O novo canteiro

 

 

Agora que o tempo

nos impede a flor nos lábios,

faremos da voz e do olhar

um novo canteiro.

 

 

 

 

 

Livros

 

 

Os livros nascem nos olhos

de quem lê.

Às vezes, descem

por veias comoventes,

até ao lugar onde pulsam

a estranheza vibrante

do seu hálito,

e aí fermentam

o desejo de mar.

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