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Alvor,a terra e a ria

Alvor,a terra e a ria

29
Jul20

Caminhos para a vida

Joaquim Morais


       

   As palavras deste pequeno texto, lembram e registam a história de mulheres de Alvor, que tal como outras do concelho e limítrofes, teimaram a vida, com a coragem e o arreganho que sempre as acompanharam, apesar das dificuldades.

 

 

                                            OPERÁRIAS CONSERVEIRAS



   O barulho das sirenes provocava a habitual agitação nas mulheres, que se desdobravam para concluir as tarefas domésticas mais urgentes.

   E era vê-las numa roda-viva, a preparar o almoço para o homem que labutava no mar, a alindar os filhos para a escola, a arrumar e a limpar a casa, para depois, numa correria em resposta à chamada das sirenes, se porem a caminho da vila.

   Os sons diferentes das sirenes permitiam identificar as fábricas que os emitiam, e responder à chamada as operárias que nelas trabalhavam.

   De carnes secas, consumidas pela voracidade de ralações e canseiras, caminhavam leves, ágeis e velozes, gastando o tempo com diálogos recheados de impropérios e dichotes, eufemismando a trágica realidade duma vida com razões de sobra para o desânimo e para a descrença totais. Caminhantes em busca dum destino menos tormentoso para as suas vidas e de seus familiares, açoitados desde sempre pelos ventos da miséria, da insegurança e da instabilidade.

   Em tempos de abundante pescaria, a estrada da vila pejava-se de grupos de mulheres, que alegravam e coloriam o trajecto com a irreverência e o pitoresco das suas atitudes.

   Na fábrica, dirigidas pelo autoritarismo de encarregados e mestres, trabalhavam sempre e apesar de tudo, com alegre disposição, um dito mordaz e gracioso na boca, e um sorriso do tamanho das inquietações que povoavam o seu dia a dia.

   Missão cumprida, regressavam palmilhando os quilómetros que as separavam dos lares e da família, trazendo no bolso o peso de mais alguns tostões, que suavizariam as dificuldades, inquilino com quem compartilhavam a casa desde sempre.

   Mulheres de rija têmpera, que marcaram uma época, que fizeram história contribuindo para o florescimento duma indústria que teve um peso considerável no panorama económico do Algarve, mas que, acima de tudo, afirmaram a coragem, a persistência, e a capacidade de sofrimento das mulheres da nossa terra.

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