24
Jul20
A minha terra desce para o mar
Joaquim Morais
As casas erguiam-se dos rodapés cinzentos,
recortadas pelo ocre solar de barras e umbrais.
A luz passeava-se refulgindo carícias
na brancura viva das fachadas térreas.
A rua cheirava a terra.
Os meninos percebiam-na
e tinham com ela uma relação íntima,
uma cumplicidade espontânea.
Havia pregões nas ruas.
Havia flores nos quintais
com alegretes caiados onde cresciam
malmequeres que os amantes desfolhavam.
A minha terra era branca
e descia para o mar.
A minha terra... ainda desce para o mar.