A Terra
Alvor
Decerto sempre terra de pescadores, a história não documenta com rigor o seu passado mais distante. No entanto, a sua realidade geográfica, quase que permite o atrevimento de reivindicar para ela um protagonismo, que as avoengas conjunturas seguramente não dispensariam. Em épocas nas quais as acções eram conduzidas por uma estratégia de domínio, que privilegiava a conquista de locais onde a sobrevivência biológica e a segurança militar se conjugassem, Alvor teria naturalmente sido motivo de acesas e contínuas disputas. Situada hoje aos pés da ria que tem o seu nome, o passado tê-la-ia também certamente na vizinhança da mesma, ressalvando a localização, com a atenção que no tempo mereceriam as questões tácticas de carácter defensivo. Talvez por isso, se atribua a localização primordial deste lugar, numa zona a norte da actual, sobranceira à ria e ao mar, e que termina numa falésia que acompanha a ria ao longo da sua margem esquerda. Local que se tem manifestado generoso no fornecimento de pistas para refazer a história, e que as gerações que o conhecimento directo permite, têm vindo a chamar de Vila Velha.
As diligências feitas para a reconstituição do passado desta terra, têm revelado um manancial de dados, que atestam a apetência do homem por este lugar desde o longínquo e obscuro período que antecedeu a história.
Na história das civilizações mais antigas, Alvor, não obstante a escassez de informação, terá sido certamente palco de acontecimentos, cujos ecos, chegaram até nós modelados pela fantasia de gerações, que, desde sempre, fizeram uma divulgação muito própria, do fumo que a fogueira dos eventos costuma produzir. Os relatos de alguns escritores da antiguidade, podem levar a concluir, sem que o possamos afirmar categoricamente, que a localização da importante cidade e entreposto comercial marítimo, Portus Annibalis, nome atribuído por um grupo de cartagineses residentes, em homenagem ao famoso general cartaginês Aníbal, corresponde ao local onde se situa actualmente a povoação de Alvor.
A evidência da presença romana, é um facto que o espólio arqueológico perceptível a olho nu, por toda a parte, confirma. A influência árabe, talvez até mais marcante, revela-se em vários aspectos da vida das gentes: na terminologia utilizada, na arquitectura de alguns edifícios, em traços fisionómicos que ainda são patentes em certos indivíduos e o próprio nome, Alvor, enraíza no idioma crescentino.
A reconquista e a integração definitiva no reino, do castelo de Alvor, conseguida com os avanços e recuos próprios do processo de expansão e consolidação da nação, aconteceu em meados do século XIII.